segunda-feira, 28 de maio de 2012

Carta para o amor

Um pequeno caderno. Discretas linhas. Palavras vermelhas.

Estou grávida.

Já havia escrito ao amor um dia estar prenha de desejos.

Ele veio. Acreditou. Forçou em mim sutilezas. Tecituras.

O amor trouxe as letras e, por vezes, as rasgou furioso. Mas logo manso, fez colo e travesseiro para que eu me deitasse novamente. Se jogou aos meus pés. Beijou-os suntuosamente.

Evadiu-se.

Ele vem. Ele vai.

Sim. Hoje via o beija-flor. Foi como ouvir aquela história contada pelo velho negro coberto em lágrimas e suores.

O pássaro da fineza. Beija a flor quase sem tocá-la. Fica no ar. Faz um enorme movimento. Contínuo.

Mas quem o vê quase não percebe seu custo para beijar a flor e ficar no ar.

Ele fica.

As letras aos poucos caem do papel. Vão adentrando para a alma, como os tremores de vovô.

O medo varia. Ora firme, ora diluído como pingo dágua.

Na chuva que escorre lá fora corre mais do que posso dizer.

Há um impossível-palavra.

Este fica e me faz companhia até que eu adormeça.

Um comentário:

Anônimo disse...

Que nasça.