sexta-feira, 22 de abril de 2011

A menina que pegava caranguejos

A casa dela era como arca de noé.
Boiava nágua quando chovia no mangue.
As brechas de madeira deixavam passar fresta de luz e de sol...
Na casa, eram muitos. Dormiam revezados quando a água tomava tudo.
Mas ela, menina, entrava pra debaixo da mesa, simples e cantava.
A mãe já sabia. A menina esperava a comidinha boa de cheirinho gostoso.
O prato feito pela maezinha ia por debaixo da mesa, animava a cabaninha
improvisada de invenção de menina rosa.
Com seus cabelos encaracolados ela sonhava construir tecnologia pra pegar caranguejo noutro dia... foi de lá que ela tornou-se inventadeira de moda...
Antes, porém, tornou-se contadora. Claro! Ela além de contar histórias e caranguejos, fazia as compras da semana no mercadinho. Tarefa de casa.
Casa de muito irmão, cada um aprende cedo o que tem de tirar da vida.
Pra realizar tal tarefa tinha de dar conta de tudo que faltava. Engraçada essa vida, né? Ao contar o que faltava, a menina crescia e inventava jeito e até responderia.
As vezes era respondona. Até levou coro. Lembrava de lembrança doída, de garotinha miúda de três luas. Foi pra responder pra vida, que por vezes, é dura.
Assim tava ela lá, nas horas de folga a devanear sobre caranguejos...
Achava o bicho esperto e matutava como ser mais rápida que ele... Amarrava cordinha transparente em varinha mágica e capturava os bichinhos. Conseguia. Passava horas. Nem piava que era pra num espantar caranguejo grande. Ela pegava os maiores.
Era boa nisso. Era boa aquela menina.
Hoje, se alguém pergunta cadê a menina de cachos que pegava caranguejo.... já não encontra mais arca de noé, nem fresta de luz, nem mangue, nem caranguejo.
Encontra coração grande que abarcou mundo pequeno e expandiu-se em histórias de encher os olhos!


Para Ruth.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Hoje desejei que fosse tardinha de ontem...
Ouvia Bethania,
fiquei com o caboclo loiro nos olhos.
Dizíamos ter sido salvos pela crina ao vento...
Vinha até cheiro de mato.
Vinha trilha sonora.
Vinha tanta coisa nos poros... que se chovesse nem molhava.
Fazia que nem passarinho.
Aprumava pro vôo, enceradas asas de ir longe.
Barulhinho de caboclo loiro voltava no vento, mesmo.
Menino do morro, do paraíso, da chapada, de vitórias...
Nenenzinho do tempo e do sol atestava tudo!!!
Sorria que era mesmo. Como se soubesse da leveza da tarde, do encontro.
Ouvia a flauta tocada de prumo pelo padrinho coruja.
Testemunhando simplicidade e cabelos cortados. Liberdade talvez.


Para Felipe, Ayam e Paula.