segunda-feira, 12 de julho de 2010

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Dia de meu pai

Hoje lembrei-me de meu pai.

O dia estava embaraçoso de fininha chuva e friinho plumbo. Mas - por dentro - as lembranças assaltavam o desatino.

Naquele tempo, nem sabia quanto ficaria marcada pela música. Pela água. Pelos cheiros.

Se o forçoso abraço tivesse voz, falaria de amor, pousadamente. Como passarinho em raminho de rezadeira.

Meu pai podia até ser rocha. Mas não. Se faz vegetal pra sua força nascer singela.

Das ruas que entram pelos olhos, das melodias que escapam pela boca,

admito:

fui marcada por ser maria.

Como rasos d'água amolecem olhos, chego que corôo raiz de flor.

Infância molhada de alegria e saudade de presente vivo.

Por hoje - mesmo de passos miúdos,

nada me escapa da fonte viva de meu pai.

Encontro-o a todo tempo.

Pelas árvores, principalmente. Ele legou-nos uma breve impressão de árvores. Abraçava-as no caminho, para reparar energias. Aprendi, mais do que sabia.

Fito-as nas (pai)ragens.

Paisagens que se modificam com a chuva, fininha. E nunca são estanques ou cristais.

Mas são movimentos de vento e de melodia menina. O sol banhava-nos todos.

Eu podia ouvir: mãe cantando na janela.... pai entonando voz modulada pelo simples.

As coisas são simples.

Nada é tão singelo quanto o amor.





Para Antônio.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Carta anônima

Caro,
Dizem-me para escrever-te.
Aceito.
O primeiro disparo é em mim.
Mesmo sem saber o que escrever. A cá estou.
Experiência estranha. Arrancada.
Isso me faz pensar: quantas muitas das vezes,
estranhamos estar com aqueles que julgamos conhecer.
A ti, nunca encontrei. Converso contigo, como conversando comigo mesma.
Não sabes que me lembro, que deste lado
meu deus
tu és como eu: estranho.
Daí, então, poderia contar-te segredos?
Poderia falar-te de amor?
Deveria escrever seriamente.
Ou quem sabe, austera e formal.
Mas ainda dói quando arrancamos algo.
Como saber o que farás com minhas palavras?
Como dizer se elas te encontrarão o íntimo ou
cairão terra asfaltada, sem juras e sem valor?
Fico entre pedir-te mais um pouco
ou
entre pôr ponto de basta em frases incomuns.
Mas opto
por uma terceira margem.
Pra fazer lembrar nosso poeta mineiro:
Ofereço-te Rosas!