quinta-feira, 11 de abril de 2013

Somente por um vislumbre
se alcança o infinito.


Para Marina

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Carta para o amor

Um pequeno caderno. Discretas linhas. Palavras vermelhas.

Estou grávida.

Já havia escrito ao amor um dia estar prenha de desejos.

Ele veio. Acreditou. Forçou em mim sutilezas. Tecituras.

O amor trouxe as letras e, por vezes, as rasgou furioso. Mas logo manso, fez colo e travesseiro para que eu me deitasse novamente. Se jogou aos meus pés. Beijou-os suntuosamente.

Evadiu-se.

Ele vem. Ele vai.

Sim. Hoje via o beija-flor. Foi como ouvir aquela história contada pelo velho negro coberto em lágrimas e suores.

O pássaro da fineza. Beija a flor quase sem tocá-la. Fica no ar. Faz um enorme movimento. Contínuo.

Mas quem o vê quase não percebe seu custo para beijar a flor e ficar no ar.

Ele fica.

As letras aos poucos caem do papel. Vão adentrando para a alma, como os tremores de vovô.

O medo varia. Ora firme, ora diluído como pingo dágua.

Na chuva que escorre lá fora corre mais do que posso dizer.

Há um impossível-palavra.

Este fica e me faz companhia até que eu adormeça.

sexta-feira, 2 de março de 2012

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

A truculência é igual em qualquer lugar.
Essa igualdade não pode produzir beleza.
O belo é diferença.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Modo de estar

Hoje estou assim:

"Uma espécie de tonta,
formada de vozes e coisas".

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Ando desconfiada de que as palavras estão a fazer amor.
Elas esperam que eu vá descansar
deixam a meia luz os cômodos da casa
e poem-se a bailar.

Dizem que quando o gato vai dormir
os ratos fazem a festa.

É este o caso com as palavras.

Uma velha sensação de árvore
assalta-me as ideias.

sábado, 13 de agosto de 2011

"minha palavra percorreu o mundo"

dizia uma canção indígena...

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Rubi

O nome dela é pedra preciosa.

Exótica mulher cheia de mistérios da língua.

Agora, entre-veja, que queria a mesma
amolecer as palavras-rochas!

Que desafino! Que malícia cheirando cravo e rosa.

... era de elemento terra, seu forçoso enigma.

Dizia que boi era gente, que gente precisava de terra...

pairagens, pastagens, paisagens...

E num é que a moça de andar bailarino tinha razão...

ou melhor, coração!

Não era pequeno, não!

Era do tamanho de um boi...

Fazia escrever levinho pra nem molhar o chão de leve.

Impressões de artista. Palavra.

Andar nômade pedia seu coração. Saía a tentar encontrar caminhos.

Mas ela inteira e suas metades, seus pedaços e fragmentos já era caminho aberto.

Já era medida demais.

Pedra preciosa tem dessas coisas.



Para Rubiane.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

de ombros pro mundo

Aquela pilha de livros na sua frente.
"Preferiria não fazer."
Porém, não tinha opção, quis forçar.
A opção, pensava, era coisa pra infames.
Ele não.
Sob a pilha - seu olhar vagueante - a achou.
Ela era tão sublime. E dura, por vezes.
Adélia. Ah...ela gostava de falar de Deus.
Do amor e das plantas.
Lembrava ele que a duração do dia acaba e recomeça nos mistérios do sempre.
Na bagagem dela, confortava-se detrás das letras. Palavras.
Havia certo poder em emocionar-se.
Catava - ansioso - segredos de livro.
(...)
Na esperança de lhe urgir o trabalho que o esperava intacto.
Em vão.
Trabalhos pedem suor. Não caem do céu.
Os olhos têm de dormir e acordar. Sangrar, muita vez.
A pele pede licença. Recolhe-se. Mas logo, não tarda a empreitar na lida diária seu punhado de coragem.
Para fazer construções foi que Deus emprestou as pontas dos dedos.
(...)
Não sabia mais se iria vencer aquele destino.
Confiava, apenas.
Se Adélia podia ser tão santa em dias de pilhas e cansaço,
haveria de achar maneira para torcer o intacto.
Procurava um modo de fazer gambiarra.
Disseram-lhe um dia,
que gambiarra na terra por onde passava,
era jeitinho de fazer certas safadezas...
Não era essa, a que procurava inventar.
Gambiarra, se diz em minas,
quando se vai costurar jeito de aproveitar o velho, o gasto,
transmutando-o em novidade.
Será que haveria jeito?
Acreditava!