sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

A truculência é igual em qualquer lugar.
Essa igualdade não pode produzir beleza.
O belo é diferença.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Modo de estar

Hoje estou assim:

"Uma espécie de tonta,
formada de vozes e coisas".

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Ando desconfiada de que as palavras estão a fazer amor.
Elas esperam que eu vá descansar
deixam a meia luz os cômodos da casa
e poem-se a bailar.

Dizem que quando o gato vai dormir
os ratos fazem a festa.

É este o caso com as palavras.

Uma velha sensação de árvore
assalta-me as ideias.

sábado, 13 de agosto de 2011

"minha palavra percorreu o mundo"

dizia uma canção indígena...

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Rubi

O nome dela é pedra preciosa.

Exótica mulher cheia de mistérios da língua.

Agora, entre-veja, que queria a mesma
amolecer as palavras-rochas!

Que desafino! Que malícia cheirando cravo e rosa.

... era de elemento terra, seu forçoso enigma.

Dizia que boi era gente, que gente precisava de terra...

pairagens, pastagens, paisagens...

E num é que a moça de andar bailarino tinha razão...

ou melhor, coração!

Não era pequeno, não!

Era do tamanho de um boi...

Fazia escrever levinho pra nem molhar o chão de leve.

Impressões de artista. Palavra.

Andar nômade pedia seu coração. Saía a tentar encontrar caminhos.

Mas ela inteira e suas metades, seus pedaços e fragmentos já era caminho aberto.

Já era medida demais.

Pedra preciosa tem dessas coisas.



Para Rubiane.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

de ombros pro mundo

Aquela pilha de livros na sua frente.
"Preferiria não fazer."
Porém, não tinha opção, quis forçar.
A opção, pensava, era coisa pra infames.
Ele não.
Sob a pilha - seu olhar vagueante - a achou.
Ela era tão sublime. E dura, por vezes.
Adélia. Ah...ela gostava de falar de Deus.
Do amor e das plantas.
Lembrava ele que a duração do dia acaba e recomeça nos mistérios do sempre.
Na bagagem dela, confortava-se detrás das letras. Palavras.
Havia certo poder em emocionar-se.
Catava - ansioso - segredos de livro.
(...)
Na esperança de lhe urgir o trabalho que o esperava intacto.
Em vão.
Trabalhos pedem suor. Não caem do céu.
Os olhos têm de dormir e acordar. Sangrar, muita vez.
A pele pede licença. Recolhe-se. Mas logo, não tarda a empreitar na lida diária seu punhado de coragem.
Para fazer construções foi que Deus emprestou as pontas dos dedos.
(...)
Não sabia mais se iria vencer aquele destino.
Confiava, apenas.
Se Adélia podia ser tão santa em dias de pilhas e cansaço,
haveria de achar maneira para torcer o intacto.
Procurava um modo de fazer gambiarra.
Disseram-lhe um dia,
que gambiarra na terra por onde passava,
era jeitinho de fazer certas safadezas...
Não era essa, a que procurava inventar.
Gambiarra, se diz em minas,
quando se vai costurar jeito de aproveitar o velho, o gasto,
transmutando-o em novidade.
Será que haveria jeito?
Acreditava!

quinta-feira, 9 de junho de 2011

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Superfície...

Minha pele está envelhecendo.
Os riscos em minhas mãos... os traços sob meus olhos...
Torno-me mais leve. Pouco a pouco, opaca.
Ela faz frio.
Encobre-me ainda como a um bebê. Mas envelhece.
No reconhecível de suas marcas, o corpo delinea-se melhor de algum modo.
Tem mais curvas agora. Mais estradas.
Movimento descendente de vida afora...
Traços.
Traço a traço, coleção.
E eu que nunca fui de fazer coleções encontro certos contornos e cores ao derredor de meus dedos.
De minhas narinas.
De meus pés. Cansados, às vezes, outras tantas, vibrantes.
Há específica vibração no envelhecer...
Ele nos arrasta.
Ele dança.
Ele convida.
Ele arranca.
São de meus poros que eu cultuo o nada.
Uma busca por afazeres inúteis.
Como descanso de pedras e borboletas.
Deixo-me ao eleve...
Silencio.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

A menina que pegava caranguejos

A casa dela era como arca de noé.
Boiava nágua quando chovia no mangue.
As brechas de madeira deixavam passar fresta de luz e de sol...
Na casa, eram muitos. Dormiam revezados quando a água tomava tudo.
Mas ela, menina, entrava pra debaixo da mesa, simples e cantava.
A mãe já sabia. A menina esperava a comidinha boa de cheirinho gostoso.
O prato feito pela maezinha ia por debaixo da mesa, animava a cabaninha
improvisada de invenção de menina rosa.
Com seus cabelos encaracolados ela sonhava construir tecnologia pra pegar caranguejo noutro dia... foi de lá que ela tornou-se inventadeira de moda...
Antes, porém, tornou-se contadora. Claro! Ela além de contar histórias e caranguejos, fazia as compras da semana no mercadinho. Tarefa de casa.
Casa de muito irmão, cada um aprende cedo o que tem de tirar da vida.
Pra realizar tal tarefa tinha de dar conta de tudo que faltava. Engraçada essa vida, né? Ao contar o que faltava, a menina crescia e inventava jeito e até responderia.
As vezes era respondona. Até levou coro. Lembrava de lembrança doída, de garotinha miúda de três luas. Foi pra responder pra vida, que por vezes, é dura.
Assim tava ela lá, nas horas de folga a devanear sobre caranguejos...
Achava o bicho esperto e matutava como ser mais rápida que ele... Amarrava cordinha transparente em varinha mágica e capturava os bichinhos. Conseguia. Passava horas. Nem piava que era pra num espantar caranguejo grande. Ela pegava os maiores.
Era boa nisso. Era boa aquela menina.
Hoje, se alguém pergunta cadê a menina de cachos que pegava caranguejo.... já não encontra mais arca de noé, nem fresta de luz, nem mangue, nem caranguejo.
Encontra coração grande que abarcou mundo pequeno e expandiu-se em histórias de encher os olhos!


Para Ruth.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Hoje desejei que fosse tardinha de ontem...
Ouvia Bethania,
fiquei com o caboclo loiro nos olhos.
Dizíamos ter sido salvos pela crina ao vento...
Vinha até cheiro de mato.
Vinha trilha sonora.
Vinha tanta coisa nos poros... que se chovesse nem molhava.
Fazia que nem passarinho.
Aprumava pro vôo, enceradas asas de ir longe.
Barulhinho de caboclo loiro voltava no vento, mesmo.
Menino do morro, do paraíso, da chapada, de vitórias...
Nenenzinho do tempo e do sol atestava tudo!!!
Sorria que era mesmo. Como se soubesse da leveza da tarde, do encontro.
Ouvia a flauta tocada de prumo pelo padrinho coruja.
Testemunhando simplicidade e cabelos cortados. Liberdade talvez.


Para Felipe, Ayam e Paula.

domingo, 9 de janeiro de 2011

Francisco do rosário

Naquele palco
francisco se fez homem. Voou até desaguar no mar.
Fez choro e vela.
Cantoria curtida a sol e pedra.
Ar e fogo.
Qual signo porta este homem são?
Quais roupas podem vestí-lo a alma?
Qual alma escapa pelo canto e atinge como bala a expectadora delirante?

Hoje fotografei francisco. Fotografei anos de lembranças em pleno movimento.
Ficaram sépia as imagens...
Gosto que tenham cor de barro. De passarinho. 'Deus é passarinho'.
'Nascer é fenda de luz...'

O coração chega que de tamanha alegria não cabe em si. E explode.
É como se o mundo se enchesse de luz e de cor.
De canto e de sonho.

Sonhar é assim. A gente delira mesmo se acordado.
Revi um francisco pequenino e sardento.
Menino e homem. Velho e novo.

Salta de teus olhos teu talento de encantar pessoas.





Para Gui.