domingo, 12 de dezembro de 2010

Costura ao quente

Na sua doçura foi deitar-se perto dele.

Ficou ali a escutar a honradez da narração dura e forte.

Não é para qualquer uma ser assim, só fazer-se. Costurar-se.

Tarefa difícil é ficar ali.

Fez vergonha doutra correr léguas, porque não tinha sido capaz de suportar triz de costura repetida. Repetição, por vezes, cansa muito.

Mas ela ali. Encostada nele. Ouvia com o coração. Via que tinha de dividir-se. Pensava como faria pra agradar aos filhos. Agrado de maezinha pequena. Pequena-grande.

Levantou-se após as costuras e foi até a sala, onde a outra estava. A outra havia voltado. Caído em si.

Ela, na sua doçura consoladora, comentou: "ficar assim esquenta". Referia-se a deixar o filho deitar-se no seu peito e se pôr a contar as histórias...

Outra já havia reparado no quente. Deitava-se com ele sempre procurando a quentura. De repente ocorreu - à outra - que a quentura era o masculino.

A mãezinha responde: "num é o amor?"
Foi o que ela disse.

É, foi.




Para Verônica.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010