quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Os girassóis
se perderam
dos meus olhos...




talvez o sol não tenha mais surgido para eles (?)

...

até prefiro palavras alheias
comer vazios não guarda musicalidade.

desde que cheguei aqui
importa menos a minha própria casa.

o vasto mundo me chama à janela.

corro mais de mundo e meio só
em pensamento.

estou mais só do que aprisionada.

Dias frios

Os dias frios me transparecem a alma...
Neles, me desfaço em blumas
apareço cálida e serena...
Tenho vontade de dormir horas a fio.
Enovelo.
Faço-me casulo para na primavera mostrar asas cintilantes.

Se pudesse, cataria pelo menos
meia dúzia de pimentas vermelhas.
Só para contrastar com próprio cinza-escuro.

Mas há certo fervor dentro de mim.
Ele aquece, pouco a pouco, as lembranças
como quem saboreia um gole de conhaque.

Ah... os cachecóis!
Sabem como aprecio o contato macio.

Nos dias frios
sonho acordada com a gota d'água que corre a porta.
Enquanto ela busac seu curso
meus dedos dos pés desenham calçadas.

Já não importa se é velho ou gasto
o gosto ainda é rubro e quente.
Mesmo que os dias sejam frios.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Segundos

Quero coisas simples... dessas que fazem aquietar o espírito.
Como pôr pés descalços pela manhã em terra molhada
pelo frio da noite.
Tomar café preto em xícara branquinha, aromático e saboroso.
Plantar margaridinhas amarelas no jardim do quintal.
Deixar que as ervinhas medicinais falem de Deus toda manhã.
Desaprender a pensar
só para pensar verdadeiramente.
Ouvir de longe a música serena a entoar a lembrança
viva e lúcida que guarda a memória.
Ter um velho par de meias e chinelos.
Um pijama gasto pelo tempo e macio.
Provar um chá quentinho na beirada da chuva que cai da porta.
Fazer oferenda de vinho ao amor feito na cama gostoso e quentinho.
Morrer de calor ao dia e tomar um banho cheiroso.
Fazer parar o olhar por segundos no meio da multidão
ao ver, mesmo que longe, um garotinho brincando.
Lembrar que a morte faz perder e faz ganhar, sempre.
Que nem tudo tem explicação...
Deixar ou deixar-se ao léu...
ainda que por segundos...

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Em greve de mim mesma

Não fale nada.
Estou em greve.
Não quero ouvir nem minha incansável companheira
saudade.
Hoje sou o proprio negativo.
Como a película fotográfica em que os claros e escuros aparecem invertidos em relação ao original...
negativo da possibilidade de ser positiva...
negativo de conter negação...
negativo de negativista...
Proibitiva. Contrária. Contraprocedente.
Nula.
Menor que zero.
Negável.
Negligente.
...
A cá somente a fiel escudeira sabe o que se passa.
Meu espírito de negação sistemática está de negação com ele mesmo
Ora pois. Nenhuma incoerência me preocupa.
Não tenho responsabilidade com ninguém.
Não hoje.
Estou em greve.
Inda não sei temporária ou não.
Não pertube. Digo-me.

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Azulzinho

Diziam-me melancólica. Acreditei.
Bom, não que fosse mera crença. Achava mesmo.
Por muito, às vezes isto insiste em mim.
Já me fizeram poemas. Eu sei.
Mas foram inspirados na porção melhor.
Ora sim, ora não, sinto-me estranha.
Estranheza firme. Implacável.
Agora, porém, refaço-me às avessas.
Tomo um banho de sal grosso e levanto-me.
Penso bem que o azul do céu me anima. Seja ele claro ou da noite.
O dia amanhece.
Minha alma também.