domingo, 19 de agosto de 2007

Pau Brasil

Na beira da BR 101 tem uma árvore de Pau Brasil.
Vai saber como foi parar lá.
Árvore imponente aquela. Alta mesmo. Está cercada por uma proteção de telha de alumínio...
Aquela árvore histórica deve receber milhares de olhares por dia. E com certeza, se tivesse olhos também veria muitas coisas a acontecer naquela estrada...
Não faço a menor idéia das inúmeras coisas estranhas que devem se desenrolar ali...
Bom... pouco importa.
Na verdade é que aquele Pau Brasil me atrai... Diriam que Freud explica.
Nem é tanto por sua imponência. Mas por sua solidão cercada...
Ele está lá. Só.
Só que sua solidão não é qualquer solidão.
Onde ele se encontra não há árvore vizinha. Não há nem unzinho eucalipto ou pé de manga do lado.
Não sei como explicar.
Sua solidão não é triste nem saudosa.
Sua solidão é bela...

sábado, 18 de agosto de 2007

Livro de receitas

Os antigos sempre tinham livros de receitas... Ainda me lembro dos de minha falecida avó. Tinham papeizinhos amarelados de tão velhos guardados junto aos escritos a lápis. Quando se abria um deles saía aquele cheirinho de guardado.... Coisa curiosa.
Uma simplicidade saborosa. Ali se tinham inúmeras receitas: biscoitos, pães, bolos, tortas, chocolates, pimentões recheados, salgadinhos, maçãs do amor... se lembram disto? comíamos em festas juninas... e o frio até ficava mais rubro... ainda tinha receita de macarrão, de arroz, de feijão! Pensam que acabava nisso? Tinha receita pra dar e vender.
Me ocorre até uma lembrança esquisita: os biscoitos água e sal que minha avó levava ao forno. Comíamos aquilo como se fosse o prato mais saboroso do mundo!!! crianças...
Quando fuçávamos os livrinhos esperávamos mesmo era acharmos segredos.
Qualquer papelzinho daquele era motivo para investigação... colocávamos a devanear... achando que por detrás das receitas escritas com letras trocadas haveria algo a nos dizer talvez mais...
É engraçado como de coisas esperamos outras. Como que de receitas das coisinhas gostosas de comer talvez esperássemos algum indicativo seguro... bem que se podia ter criado uma receita para o amor, por exemplo...
Não receita de bula... mas receita de comer... algo assim bem recheado.
Que quando fosse perdendo a graça, leríamos no livrinho e poderíamos prepará-lo de modo novo... o mesmo arroz, cozido diferente.
Tipo o biscoitinho água e sal re-assado no forno depois de pronto! Sabor inédito.
Hoje peguei meu livrinho de receitas para organizá-lo.
Ao abrí-lo revi ali receitas que jamais experimentei mas estão lá... bem à altura das mãos...

domingo, 5 de agosto de 2007

sábado, 4 de agosto de 2007

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Estado de Coisas

Morna estás mas não haverás de ficar...
Entras pois em ebulição!
Quando como ferves um caldeirão d'água
e palpitas bolhas quentes a movimentar
o que dantes estava parado.
O vapor que aquece
também umidece o que se aproxima.
Mais tarde verás que a gota d'água
que desce dos olhos é calor...
Que o calor que agita a lágrima também faz sorrir o coração.
E se de novo passares do ponto,
secando
retornarás de onde partistes.
Voltas ao estado primeiro
e recomeças sempre.

O menino passarinho

E aquele menino era assim: mãos e pés grandes, mas olhar de passarinho.
Gostava de pipas e gaiolas.

As gaiolas não careciam de aves. Gostava mesmo de olhar andorinha.

Às vezes na escola,
pensava que era ditoso,
com penas largas e densas.

Sonhava em alçar o pico da montanha
mais alta que se via lá de casa...

Da janela seus pequenos olhos
saltavam grandes histórias.
Cantarolava tristeza
e essa logo saia de perto.

Já viu?
Menino despistar tristeza?
Pois esse fazia.

Fazia também perguntas em forma de pio...
Sua professora chegava a ficar nervosa. Não entendia nada.

Raros adultos têm olhar de passarinho.

Mas o menino...

O menino não desistia.
Envergava uma pipa e lá ia longe
a empenhar palavra.

palavra em forma de pio.
Ora veja se é possível...

Esse menino
cor de amarelo canário não se cansava.

Poucas vezes até cansava.
Mas quando recordava andorinha
voltava à empenhar pipas.

Tinha gosto pelas alturas.

Tinha sonho de menino...

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

como dizia o poeta...

"Ando muito completo de vazios.
Meu orgão de morrer me predomina.
Estou sem eternidades.
Não posso mais saber quando amanheço ontem.
Está rengo de mim o amanhecer.
Ouço o tamanho oblíquo de uma folha.
Atrás do ocaso fervem os insetos.
Enfiei o que pude dentro de um grilo o meu destino.
Essas coisas me mudam para cisco.
A minha independência tem algemas."

Manoel de Barros - O Livro das Ignoranças