quarta-feira, 22 de junho de 2011

de ombros pro mundo

Aquela pilha de livros na sua frente.
"Preferiria não fazer."
Porém, não tinha opção, quis forçar.
A opção, pensava, era coisa pra infames.
Ele não.
Sob a pilha - seu olhar vagueante - a achou.
Ela era tão sublime. E dura, por vezes.
Adélia. Ah...ela gostava de falar de Deus.
Do amor e das plantas.
Lembrava ele que a duração do dia acaba e recomeça nos mistérios do sempre.
Na bagagem dela, confortava-se detrás das letras. Palavras.
Havia certo poder em emocionar-se.
Catava - ansioso - segredos de livro.
(...)
Na esperança de lhe urgir o trabalho que o esperava intacto.
Em vão.
Trabalhos pedem suor. Não caem do céu.
Os olhos têm de dormir e acordar. Sangrar, muita vez.
A pele pede licença. Recolhe-se. Mas logo, não tarda a empreitar na lida diária seu punhado de coragem.
Para fazer construções foi que Deus emprestou as pontas dos dedos.
(...)
Não sabia mais se iria vencer aquele destino.
Confiava, apenas.
Se Adélia podia ser tão santa em dias de pilhas e cansaço,
haveria de achar maneira para torcer o intacto.
Procurava um modo de fazer gambiarra.
Disseram-lhe um dia,
que gambiarra na terra por onde passava,
era jeitinho de fazer certas safadezas...
Não era essa, a que procurava inventar.
Gambiarra, se diz em minas,
quando se vai costurar jeito de aproveitar o velho, o gasto,
transmutando-o em novidade.
Será que haveria jeito?
Acreditava!

2 comentários:

Anônimo disse...

O peso da terra. Da água. Da lava.

Carla Jaia disse...

Há jeitos, Maria. Há jeitos.

(e sempre existe Adélia em nós. eu gosto de como ela fala de deus. e peca)