sexta-feira, 2 de julho de 2010

Carta anônima

Caro,
Dizem-me para escrever-te.
Aceito.
O primeiro disparo é em mim.
Mesmo sem saber o que escrever. A cá estou.
Experiência estranha. Arrancada.
Isso me faz pensar: quantas muitas das vezes,
estranhamos estar com aqueles que julgamos conhecer.
A ti, nunca encontrei. Converso contigo, como conversando comigo mesma.
Não sabes que me lembro, que deste lado
meu deus
tu és como eu: estranho.
Daí, então, poderia contar-te segredos?
Poderia falar-te de amor?
Deveria escrever seriamente.
Ou quem sabe, austera e formal.
Mas ainda dói quando arrancamos algo.
Como saber o que farás com minhas palavras?
Como dizer se elas te encontrarão o íntimo ou
cairão terra asfaltada, sem juras e sem valor?
Fico entre pedir-te mais um pouco
ou
entre pôr ponto de basta em frases incomuns.
Mas opto
por uma terceira margem.
Pra fazer lembrar nosso poeta mineiro:
Ofereço-te Rosas!

3 comentários:

Paula Zilá disse...

Carol, esta carta desassossegada diz tanto dos estranhamentos 1ºs, não é?
Aqueles que costumamos ter diante do espelho.

linda!

beijocas

Carla disse...

carta poesia. linda! agora que conheço a sua voz, sinto que é a voz dessa carta. macia guardando intensidades.

Paula Barros disse...

"A ti, nunca encontrei. Converso contigo, como conversando comigo mesma."

Já vivi algo assim. O outro nunca me ouviu, nunca me entendeu. Eu de tanto conversar comigo, descobri coisas de mim, fiquei me conhecendo melhor.

Foi bom ler você. abraço