quarta-feira, 31 de março de 2010

Menina vermelha

Aquela menina lia poemas
Lia-os como problemas específicos.
Queria saber de encantados enigmas.
Porém, quanto mais lia
Cecília, Pessoa em Caeiro e em Álvaro,
Drummond e Lispector
menos entendia matemática.
Na escola disseram que era distraída.
Que andava com livros na cabeça.
A professora de português alertava:
"Esta menina escreve linhas..."
E na matemática
suas linhas eram tropeços.
Ela,
a menina,
- dias se passavam -
sentia-se estranha.
Arrancada de si.
Nem linha, nem só tropeço.
Já não encontrava resposta
nem nos livros, nem na escola.
De certo sempre sofreu
um pouquinho
de melanco-lia.

Um dia temendo
toda série de decisões
passou a gastar tempo
em avulsos escritos.
E achando perder-se, meio ao indecidível,
encontrou-se.
Encontro arrancado
de improvisações,
vez em quando parava.

Gostava de tomar groselha.
Vermelha ficava.
Lembrava-se do espectro das cores.
De novo, não sabia.

Mas era de seus poros
que sua vida saía.

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