Hoje lembrei-me de meu pai.
O dia estava embaraçoso de fininha chuva e friinho plumbo. Mas - por dentro - as lembranças assaltavam o desatino.
Naquele tempo, nem sabia quanto ficaria marcada pela música. Pela água. Pelos cheiros.
Se o forçoso abraço tivesse voz, falaria de amor, pousadamente. Como passarinho em raminho de rezadeira.
Meu pai podia até ser rocha. Mas não. Se faz vegetal pra sua força nascer singela.
Das ruas que entram pelos olhos, das melodias que escapam pela boca,
admito:
fui marcada por ser maria.
Como rasos d'água amolecem olhos, chego que corôo raiz de flor.
Infância molhada de alegria e saudade de presente vivo.
Por hoje - mesmo de passos miúdos,
nada me escapa da fonte viva de meu pai.
Encontro-o a todo tempo.
Pelas árvores, principalmente. Ele legou-nos uma breve impressão de árvores. Abraçava-as no caminho, para reparar energias. Aprendi, mais do que sabia.
Fito-as nas (pai)ragens.
Paisagens que se modificam com a chuva, fininha. E nunca são estanques ou cristais.
Mas são movimentos de vento e de melodia menina. O sol banhava-nos todos.
Eu podia ouvir: mãe cantando na janela.... pai entonando voz modulada pelo simples.
As coisas são simples.
Nada é tão singelo quanto o amor.
Para Antônio.
5 comentários:
Carolina, muito lindo o que escreveste. Tu tens um jeito bom, bonito de lidar com as palavras, fazendo-as bem próximas da vida que se articula em poesias.
Beijo
que lindo, Carol Maria.
Até deu vontade de ser seu pai para receber todo esse carinho gostoso e tão bem escrito, sentido.
um grande beijo, minha querida amiga!
querida, me passa o blog do Dauri depois, não consegui acessar pelo perfil.
beijocas
Carol, deafaleço de delicadeza ao ler você. Esse amor bonito e esse pai matagal. Ímpetos de beijar meu pai, rompendo a noite. E hoje você me lembra Adélia Prado. Ela já me fez chorar.
A singeleza deste amor, do seu amor pelo seu pai, nos traz um texto emocionante, repleto de carinho.
abraço
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